29 outubro 2007

Paula Rego - Impactante!


Foi o meu presente de aniversário: visitar a exposição da Paula Rego em Madrid, no Museu Nacional Centro de Artes Reina Sofia. Cheia de trabalho, lá me enchi de coragem para o deixar para trás e fomos, o meu maridão e eu, desanuviar durante um fim de semana, que bem precisávamos.

A entrada no museu foi gratuita - é sempre assim aos sábados de tarde e aos domingos. Quando entrámos, alugámos um guia digital, tipo rádio com auscultadores, para irmos ouvindo a explicação do que víamos. (A senhora do museu apresentava-nos os packs de guias que podíamos alugar e, quando falou na Paula Rego disse "es una pintora portuguesa", ao que eu respondi orgulhosamente: "si! vinimos por ella!"). O aluguer do guia foi uma boa opção; sem ele a exposição não teria tido um décimo da graça.

Eu já sabia que a Paula Rego possuia um espírito inquieto com uma grande dose de loucura, mas aprendi bastante sobre a vida dela, a forma como lhe foram ocorrendo alguns trabalhos e como os preparava e percebi que a insanidade dela vai muito além daquilo que eu possa alguma vez imaginar. É por isso que consegue ser genial.

Aprendi também que é frequente um quadro não nascer de uma assentada, isto é, o pintor leva algum tempo a pensar no tema, no que quer transmitir, em como o vai fazer, e às vezes faz à parte uns quantos esboços (que também são obras de arte magníficas) até chegar ao desenho final que vai pintar. De certa forma, um ilustrador tem a vida facilitada comparada com a de um pintor - é que a história já está contada, o ilustrador só tem que a desenhar e pintar.

Detive-me o mais que pude em cada um dos quadros da extensa exposição. Em cada segundo mais que dedicava a cada quadro descobria um novo detalhe do desenho, um pormenor da pintura, um retoque de cor... Queria poder tê-los todos em casa para continuar a contemplá-los todos os dias. Sei que sempre irira haver algo de novo para admirar (agora entendo-te, Flávia).

Os quadros da Paula Rego não são propriamente bonitos. As suas personagens, quando não são disformes ou meio-humanas-meio-animais, têm fisionomias austeras, rudes... e as crianças têm quase sempre cara de adultos. Mas as emoções que as pinturas conseguem provocar (pelo menos a mim) valem por tudo o resto. Chocam. Emocionam. Agridem. Espantam. Intrigam. Enternecem. Divertem.

Alguém quer acrescentar algum verbo a esta lista? Sei que me está a escapar algo...

Foi, por certo, um dos melhores presentes de aniversário que já recebi até hoje. Recomendo vivamente! Obrigada maridão!

Depois da exposição da Paula Rego, visitámos outras alas do museu (não todas, porque é demasiado para uma tarde só) e foi muito emocionante poder ver de perto trabalhos de Dali, de Picasso, de Miró (qual deles o mais louco, qual deles o mais genial) e de muitos outros que desconhecia completamente. A verdade é que ver ao vivo os quadros que conhecia dos livros desde criança, é muito, mas muito melhor do que vê-los nos livros ou na internet.

O Guernica, de Picasso surpreendeu-me pela positiva. Não sabia que era tão grande nem tão magnífico. Antes de lá chegar pode ver-se uma exposição sobre todo o processo de construção do quadro e perceber o que foi sendo alterado desde o esboço inicial até ao resultado final. Tanto quis examiná-lo em pormenor que consegui disparar o alarme, só porque me aproximei demasiado...

No fim desta experiência pensei: todos os alunos do ensino secundário deviam ter como obrigatória uma vista de estudo a exposições de artistas plásticos portugueses. Uma visita que fosse devidamente preparada e orientada para que pudessem tirar dali algum conhecimento sobre o que de magnífico vai sendo feito pelos nossos.

26 outubro 2007

Bom fim-de-semana!

Digo-lhes eu à saída da sala de aula. Pergunto-me depois que sentido faz desejar um bom fim-de-semana a quem passa os sábados e os domingos da mesma forma que passa os dias de semana, ou até pior, já que de semana até estão fora da cela muito mais tempo para poderem ir às aulas. Pelo que me dou conta, só os domingos de quinze em quinze dias são dignos de registo para alguns deles, porque é quando recebem a visita de familiares e amigos.

Como dizia um deles um dia destes em tom de desabafo, ainda que com alguma boa disposição evidente na voz: "Isto de estar detido é muito triste."

24 outubro 2007

Hoje houve pancada

Estávamos nós dentro do Ó, já no final do tempo de intervalo a meio da manhã, à espera que os guardas nos abrissem as portas das salas, quando dois dos reclusos se pegaram à murraça, forte e feio. Eu levei uns segundos a perceber o que estava a acontecer (lerda!) findos os quais me arredei para trás o mais que pude, não fosse sobrar para mim algum soco perdido.

Depois, perguntei-me: mas onde estão os guardas? Olhei para trás, e lá estava um, muito "sogadito", a olhar impávido e sereno. Os outros reclusos mantiveram-se nos seus lugares, a maior parte sentados nos bancos do recreio, como se nada fosse, à excepção de um ou dois que foram separar os que lutavam.

Depois do intervalo, conversando com os guardas, ficámos a saber que eles, por norma, não se metem numa briga entre reclusos e que, se acontecer algo do género dentro da sala de aula, o que tenho a fazer é sair imediatamente.

Sim, senhor... fiquei mais descansada por saber que está sempre um guarda por perto...

Mas bem vistas as coisas, os guardas não poderiam agir de outra forma. Se se intrometessem na briga, o mais provável é que todos os outros reclusos se metessem ao barulho, na esperança de poder agredir o guarda, sob pretexto de acidente infeliz.

Enfim, estamos sempre a aprender.

Porque sorriem?

Às vezes espanta-me, e quase me incomoda, o sorriso e a boa disposição de alguns deles. A minha primeira reacção é pensar que se fosse eu que estivesse no seu lugar, não teria a mínima vontade de sorrir.
Mas depois, penso que alguns, à parte da falta de liberdade, nunca tiveram tanto como têm ali: uma cama onde dormir, hora certa para comer e a certeza de comida na mesa. Até que ponto isso poderá valer mais que a liberdade?
Além disso, alguns deles estão ali há anos... e provavelmente eu também não seria capaz de me manter sisuda durante tanto tempo...

Um deles conta sair no final desta semana, depois de 5 anos de cativeiro. Tem agora 24 anos. Que anos bons ele perdeu!... Temo por ele. Neste curto período de tempo que com ele convivi não lhe percebi nem uma nesga de garra. E dificilmente será a preparação escolar que leva que o salvará...

17 outubro 2007

"Quem vê caras não vê corações"

Olho para eles e não consigo imaginar (quase) nenhum deles a fazer maldades...

12 outubro 2007

Experimentações

Ando a experimentar modelos que aproveitem mais o espaço do ecran. Aqui reaulta. Não sei se noutros formatos de ecran diferentes do meu, o espaço fica também mais optimizado.

As cores não são definitivas. Peço desde já desculpa se em alguma das visitas que tão gentilmente me fazem, apanharem algum susto...

Se estiver muito feio, por favor queixem-se.

09 outubro 2007

Quando o portão se fecha...

Hoje foi o meu primeiro dia de aulas na prisão-escola. Um dia cheio de emoções, de cheiros, de sensações.

O dia amanheceu solarengo, mas com nevoeiro acumulado nos vales. Eu acordei às 6:30 para poder preparar tudo a tempo. Estava ansiosa e preocupada em chegar a horas porque não conhecia ainda todas as instalações.

Sempre a correr, lá cheguei quase 10 minutos antes da hora, como convém a quem vai às aranhas.

-Está nevoeiro - anunciaram as minhas colegas - escusas de ir com pressa.
-Ah, pois é!... Já nem melembrava disso... - disse eu, ao mesmo tempo que tentava arranjar a calma suficiente para ficar sossegada à espera que o nevoeiro se fosse embora.

Quando há nevoeiro não tiram os presos das celas, não vá um escapar-se pela vegetação densa da vasta e bonita quinta onde se situa o estabelecimento prisional.

Ficámos as cinco professoras em amena cavaqueira, a aproveitar o solinho quentinho da manhã e o cheiro a pinheiro húmido, até que, 45 minutos depois da hora prevista, chegaram os alunos. Todos homens, com idades entre os 17 e os 25 anos, todos de calça e casaco azul e t-shirt branca, a grande maioria de raça negra. Diferem no calçado, que vai da bota de pedreiro à sapatilha de marca.

Nós entrámos atrás deles para o recinto exterior às salas. O edifício das salas tem a forma de U e um portão de grades fecha esse U, que passa a ser um Ó. :-) Dentro do Ó é o "recreio" - com menos de 1oo metros quadrados.

Primeiro choque: o som do portão de grades a fechar-se nas minhas costas. Foi uma sensação horrível e totalmente inesperada. Por um segundo senti-me presa. Senti que se quisesse sair dali a correr não poderia. Depois lembrei-me que só ia ficar fechada por 45 minutos, o tempo até ao próximo intervalo, e passei à acção.

Nem consigo imaginar a angústia de saber-se preso dentro do mesmo lugar durante anos...

A primeira turma (11º ano) tinha dois alunos, sem material escolar, sem ganas nenhumas para nada e com muito sono. Ainda assim, depois de reclamarem por eu não me ter ficado pela apresentação e tchau-tchau-bye-bye, lá consegui que começassem a escrever e a participar na aula.

Hora do recreio: os alunos ficam todos dentro do Ó. Se quiserem lanchinho da manhã, têm que ir prevenidos . Ao passar em direcção ao portão (que se abriu, ufa!), senti um cheiro esquisito no ar, que não era só de tabaco...

Segunda turma: 10º Ano, 22 alunos, quase todos provenientes do 9º ano de um curso EFA - esses modernos que validam as supostas competências da malta, porque este país precisa é de gente diplomada, mesmo que sem bases sólidas.

Testaram-me ao limite: perguntaram se o que via correspondia ao que esperava encontrar, se eu dava aulas há muito tempo e se era a primeira vez que dava aulas ali, pediram para ir à casa-de-banho, aldrabaram a hora da formatura para ver se conseguiam sair mais cedo... Não houve abébias para ninguém e eu mantive-me firme e hirta como uma barra de ferro. Vamos lá ver se fiz bem... E a seguir às apresentações, tomem lá uma ficha de trabalho. Protestaram, mas eu expliquei-lhes que naquela sala ninguém estava preso. Só lá estava quem queria estar.
Nesta turma custou-me particularmente aguentar o cheiro concentrado a falta de banhos frequentes...

Hora do almoço, ouço um aluno lamentar-se: Outra vez batata cozida...
Como percebeu que eu ouvi, explicou-me: Estou cá há um ano e meio e desde que entrei, nunca mais comi uma batata frita. Contam os mais antigos que a fritadeira se avariou há uns cinco ou seis anos e desde então, nunca mais a arranjaram ou compraram outra. A mim, trazem-me batatas de pacote, mas não é a mesma coisa...

Eu cá, da próxima vez que comer batatas fritas caseirinhas, salgadinhas, deliciosas, vou apreciá-las ainda mais do que é costume.

À saída da prisão, há que abrir a bagageira do carro para mostrar ao guarda que não levamos connosco nenhum presente indesejado.

Alberto Montt


Estou delirante com a obra deste ilustrador. Chegou-me pelas mãos do meu amigo Joca e não me canso de olhar para o seu trabalho. Além das ilustrações magníficas e cheias de carácter que faz para livros e outros materiais e que mostra em Cosas que ilustro cuando ilustro cosas, revela um espectacular e delicioso sentido de humor em alberto montt. A imagem que serve de mote a este post é apenas um exemplo, que muito me custou a escolher, entre os inúmeros desenhos carregados de trocadilhos que lá podemos encontrar. No final venceu a minha faceta feminista - se é que se pode chamar feminismo a pedir ajuda à nossa cara-metade para a execução das tarefas domésticas...

07 outubro 2007

Brincadeiras no Parque


O tempo estava excelente e, à hora de almoço, tínhamos o parque quase só para nós. Que delícia.


:-)

04 outubro 2007

Mini-Vasos



Este é o resultado de uma experiência. (A esta foto chamo "O Amor acima de tudo" :-) )

São algumas das minhas primeiras aventuras em pintura em cerâmica, com tinta de água e lápis cerâmico. Costumo criar os desenhos, mas a pintura é mais difícil porque a técnica é diferente de pintar com guache, ou aguarela, ou outra tinta qualquer em papel ou tela. Até que gostei do resultado, embora goste mais de umas decorações que de outras.


Este é um dos vasos, com um mini-cacto.

Os vasos medem 8x8x10 cm.

E a seguir cada uma das decorações em pormenor.






03 outubro 2007

Os Artistas cá de Casa (parte 2)


Desta vez foi o maridão que se divertiu a desenhar enquanto brincava com o filho mais novo. Esse escolhia a cor e pedia uma expressão facial. Digam lá se a minha malta não tem toda veia artística!