A entrada no museu foi gratuita - é sempre assim aos sábados de tarde e aos domingos. Quando entrámos, alugámos um guia digital, tipo rádio com auscultadores, para irmos ouvindo a explicação do que víamos. (A senhora do museu apresentava-nos os packs de guias que podíamos alugar e, quando falou na Paula Rego disse "es una pintora portuguesa", ao que eu respondi orgulhosamente: "si! vinimos por ella!"). O aluguer do guia foi uma boa opção; sem ele a exposição não teria tido um décimo da graça.
Eu já sabia que a Paula Rego possuia um espírito inquieto com uma grande dose de loucura, mas aprendi bastante sobre a vida dela, a forma como lhe foram ocorrendo alguns trabalhos e como os preparava e percebi que a insanidade dela vai muito além daquilo que eu possa alguma vez imaginar. É por isso que consegue ser genial.
Aprendi também que é frequente um quadro não nascer de uma assentada, isto é, o pintor leva algum tempo a pensar no tema, no que quer transmitir, em como o vai fazer, e às vezes faz à parte uns quantos esboços (que também são obras de arte magníficas) até chegar ao desenho final que vai pintar. De certa forma, um ilustrador tem a vida facilitada comparada com a de um pintor - é que a história já está contada, o ilustrador só tem que a desenhar e pintar.
Detive-me o mais que pude em cada um dos quadros da extensa exposição. Em cada segundo mais que dedicava a cada quadro descobria um novo detalhe do desenho, um pormenor da pintura, um retoque de cor... Queria poder tê-los todos em casa para continuar a contemplá-los todos os dias. Sei que sempre irira haver algo de novo para admirar (agora entendo-te, Flávia).
Os quadros da Paula Rego não são propriamente bonitos. As suas personagens, quando não são disformes ou meio-humanas-meio-animais, têm fisionomias austeras, rudes... e as crianças têm quase sempre cara de adultos. Mas as emoções que as pinturas conseguem provocar (pelo menos a mim) valem por tudo o resto. Chocam. Emocionam. Agridem. Espantam. Intrigam. Enternecem. Divertem.
Alguém quer acrescentar algum verbo a esta lista? Sei que me está a escapar algo...
Foi, por certo, um dos melhores presentes de aniversário que já recebi até hoje. Recomendo vivamente! Obrigada maridão!
Depois da exposição da Paula Rego, visitámos outras alas do museu (não todas, porque é demasiado para uma tarde só) e foi muito emocionante poder ver de perto trabalhos de Dali, de Picasso, de Miró (qual deles o mais louco, qual deles o mais genial) e de muitos outros que desconhecia completamente. A verdade é que ver ao vivo os quadros que conhecia dos livros desde criança, é muito, mas muito melhor do que vê-los nos livros ou na internet.
O Guernica, de Picasso surpreendeu-me pela positiva. Não sabia que era tão grande nem tão magnífico. Antes de lá chegar pode ver-se uma exposição sobre todo o processo de construção do quadro e perceber o que foi sendo alterado desde o esboço inicial até ao resultado final. Tanto quis examiná-lo em pormenor que consegui disparar o alarme, só porque me aproximei demasiado...
No fim desta experiência pensei: todos os alunos do ensino secundário deviam ter como obrigatória uma vista de estudo a exposições de artistas plásticos portugueses. Uma visita que fosse devidamente preparada e orientada para que pudessem tirar dali algum conhecimento sobre o que de magnífico vai sendo feito pelos nossos.